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domingo, 26 de dezembro de 2010

SONETO DO SÓ


SONETO DO SÓ


(Parábola de Malte Laurids Brigge)




"Depois foi só. O Amor era mais nada


Sentiu-se pobre e triste como Jó


Um cão veio lamber-lhe a mão na estrada


Espantado, parou. Depois foi só.






Depois veio a poesia ensimesmada



Em espelhos. Sofreu de fazer dó


Viu a face de Cristo ensanguentada


Da sua, imagem - e orou. Depois foi só.






Depois veio o verão e veio o medo


Desceu de seu castelo até o rochedo


Sobre a noite e do mar lhe veio a voz






A anunciar os anjos sanguinários...


Depois cerrou os olhos solitários


E só então foi totalmente a sós.






Vinicius de Moraes

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

E por que haverias de querer

"E por que haverias de querer minha alma
Na tua cama?
Disse palavras liquidas, deleitosas, ásperas
Obscenas, porque era assim que gostávamos
(...)
De quqerer a minha alma na tua cama?
Jubila-te da memória de coito e de acertos.
Ou tenta-me de novo. Obriga-me

Hilda Hists

A Magia da Poesia - Mario Quintana

A Magia da Poesia - Mario Quintana

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Identidade


"Preciso ser um outro

para ser eu mesmo


Sou grão de rocha

Sou o vento que a desgasta


Sou pólen sem insecto


Sou areia sustentando

o sexo das árvores


Existo onde me desconheço

aguardando pelo meu passado

ansiando a esperança do futuro


No mundo que combato morro

no mundo por que luto nasço"


Mia Couto, in "Raiz de Orvalho e Outros Poemas"

domingo, 12 de dezembro de 2010

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Próprio do Espelho


Falar de amor com quem não compreende.
Esperar uma palavra de amor de alguém que não existe
Amor, amor, o que será o amor?

Insight, epifania, ausência

Falar de amor com aquele que sente
Sentir amor como nunca sente
Amor, amor, o que será o amor?

Algo inexplicavel
Deixa de existir
sentimento indomavel
até exaurir
a procura do seu amado?

Descoberta repentina
um sentimento que impregna
a outra face do próprio espelho.

Ivete Vidigoi

Perdoai, mas eu preciso ser outros. M. de Barros

domingo, 5 de dezembro de 2010

Viva a Literatura: Imagem


Viva a Literatura: Imagem: "A minha imagem, tal qual eu a via nos espelhos, anda sempre ao colo da minha alma. Eu não podia ser senão curvo e débil como sou, mesmo no..."A minha imagem, tal qual eu a via nos espelhos, anda sempre ao colo da minha alma. Eu não podia ser senão curvo e débil como sou, mesmo nos meus pensamentos.

Tudo em mim é de um príncipe de cromo colado no álbum velho de uma criancinha que morreu sempre há muito tempo.

Amar-me é ter pena de mim. Um dia, lá para o fim do futuro, alguém escreverá sobre mim um poema, e talvez só então eu comece a reinar no meu Reino.

Trecho do livro Desassossego de Fernando Pessoa

Imagem


A minha imagem, tal qual eu a via nos espelhos, anda sempre ao colo da minha alma. Eu não podia ser senão curvo e débil como sou, mesmo nos meus pensamentos.

Tudo em mim é de um príncipe de cromo colado no álbum velho de uma criancinha que morreu sempre há muito tempo.

Amar-me é ter pena de mim. Um dia, lá para o fim do futuro, alguém escreverá sobre mim um poema, e talvez só então eu comece a reinar no meu Reino.

Trecho do livro Desassossego de Fernando Pessoa

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Ausência


Ausência Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar seus olhos que são doces...
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres exausto...
No entanto a tua presença é qualquer coisa, como a luz e a vida...
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto...
E em minha voz, a tua voz...
Não te quero ter, pois em meu ser tudo estaria terminado...
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados...
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada...
Que ficou em minha carne como uma nódoa do passado...
Eu deixarei...Tu irás e encostarás tua face em outra face...
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada...
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu...
porque eu fui o grande íntimo da noite...
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa...
Porque os meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
E eu ficarei só como os veleiros nos portos silenciosos
Mas eu te possuirei mais que ninguém, porque poderei partir.
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas,
serão a tua voz presente, tua voz ausente, a tua voz serenizada.

Vinícius de Moraes

Eu não existo sem você


Eu não existo sem você

Eu sei e você sabe, já que a vida quis assim
Que nada nesse mundo levará você de mim
Eu sei e você sabe que a distância não existe
Que todo grande amor
Só é bem grande se for triste
Por isso, meu amor
Não tenha medo de sofrer
Que todos os caminhos
Me encaminham pra você

Assim como o oceano
Só é belo com luar
Assim como a canção
Só tem razão se se cantar
Assim como uma nuvem
Só acontece se chover
Assim como o poeta
Só é grande se sofrer
Assim como viver
Sem ter amor não é viver
Não há você sem mim
Eu não existo sem você

Vinícius de Moraes

Viva a Literatura: Hoje

Viva a Literatura: Hoje: "Hoje quase o meu coração sorriu, porque viu o brilho no seu olhar. Hoje quase a sensação de vários sentidos se misturou e por um instante ..."

Hoje


Hoje quase o meu coração sorriu, porque viu o brilho no seu olhar.
Hoje quase a sensação de vários sentidos se misturou e
por um instante a minha mão tocou na sua e a sua mão tocou na minha
por um instante quase eu sorri para você.
Mas por frações de segundos lembrei-me o quanto você me faz sofrer
e assim eu não esperei pelo quase
dei um fim!

Ivete Vidigoi