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quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Soneto de Fidelidade



De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

Vinicius de Moraes


Comentários:

Nicole Fernandez Bravo (2000) explica que a literatura tem a vocação de pôr em cena o duplo, invalidando o princípio de identidade: o que é uno é também múltiplo, como o escritor sabe por experiência (p.282). Para ela, o mundo é representado pela narrativa ou por meio da palavra, especificamente pela narrativa literária, que é formada, como sabemos, por palavras polivalentes, isto é, representa mais de uma face da realidade.

Transportando o mundo real para o mundo imaginário, o poeta também usa o duplo. Surge, então, um novo tipo de representação que, sob o signo do imaginário, passa a estreitar as relações entre os homens, tornando-se um meio de identificação social.

O título Soneto de Fidelidade, o leitor, logo identifica-se com o eu-lírico, pois a busca do amor pelo outro, invalidando a identidade pessoal, eu amo tanto que amo mais você do que eu, seria mais ou menos está ideia.

A Dialética, também está presente, Soneto de Fidelidade, nos versos "E assim, quando mais tarde me procure/Quem sabe a morte, angústia de quem vive/Quem sabe a solidão, fim de quem ama" Amor versus dor. Já dito por mim que a ferida decorrente dessa cisão permanece aberta, pois a dor no caso, é permanente, só desaparecendo no "EU" encontrado o "SEU" outro "EU", e Vinicius fecha com o verso "Mas que seja infinito enquanto dure". A cisão desse amor gera a dor e a busca pelo novo amor.

Enquanto existir prometo a minha fidelidade, e, não seria isso que a natureza humana busca, mas infelizmente, mesmo que o Fim chega, mantém-se a máscara na face, porque muitas vezes é difícil buscar, coragem de buscar o desconhecido!

"Desejar violentamente uma coisa é tornar-se cego para o demais" Demócrito (século V A.c.)

Bibliografia: Vidigoi, Ivete. O espelho e a duplicação do Eu. 2005